Perceber que meus pesadelos de infância e adolescência não haviam terminado foi demais para mim. Hoje sei que não foi esse episódio isolado que me derrubou mas sim a combinação de todas as outras estórias, de anos a fio, tantas vezes sem revide e compreensão ou suporte.
Precisamos entender que o combate à transfobia também é uma luta por direitos da população negra. O Dia da Memória Trans*, comemorado em 20 de novembro, tem em sua origem a estória de uma mulher negra.
Como feminista negra, considero a transformação da mulata em produto exótico de época, submetido a classificações a análises, como problemática. Nós temos voz, vontade, livre árbítrio. Somos muito mais que uma área de conhecimento, somos gente. E justamente por isso não aceitamos que nossos corpos sejam tratados como passíveis de serem avaliados, que sejamos hipessexualizadas ou que nos seja dito quando e onde podemos manifestar nossas opiniões contra aquilo que é publica e notoriamente machismo. Isso é defesa, isso é sobrevivência. Ela se dá nas ruas mas tgambém se dá na definição de conceitos e termos que versam sobre nossos corpos, nossa existência.
A lógica que constroi a ideia de que o trabalho doméstico é feminino é a mesma que o direciona para a mulher negra. O machismo tem um irmão e o nome dele é racismo. Um dos primos de primeiro grau atende pelo nome de classismo. Quando estão todos de mãos dadas, são as mulheres negras que sofrem.
Conquistar espaços que me são hostis ou criar novas possibilidades. Sim, estou dizendo com todas as letras que os espaços feministas brancos são hostis às feministas negras. Outras antes de mim fizeram o mesmo e ainda temos de falar as mesmas coisas.