Por Charô Nunes para as Blogueiras Negras
Bastou que apenas um homem de pele branca se autodeclarasse negro no concurso do Instituto Rio Branco para comprovar que o sistema de cotas raciais é ineficiente. Que sua implementação é impossível por conta de afrodescendentes de pela clara, negros ricos o bastante para estudar em boas escolas e em função do desrespeito aos brancos pobres. Melhor seria um projeto de cotas sociais uma vez que não existem negros, muito menos racismo numa sociedade miscigenada (sic metafísico).
Parece que o tempo não passou para os argumentos do manifesto dos 113 Cidadãos Anti-Racistas Contra as Leis Raciais que reaparecem, aqui e acolá semelhante a um ectoplasma malcheiroso. Como se as cotas raciais e os cotistas fossem apenas hipóteses. Não importam os milhares que serão beneficiados nos próximos anos pelo projeto, nem mesmo seu desempenho igual ou melhor se comparado ao daqueles que passam pelo sistema de amplo acesso. Tudo o que importa é um único homem de pele branca e olhos claros. Se é isso que ele queria, conseguiu.
Estamos discutindo se camiseta 100% negro que o estudante usou para provavelmente fazer galhofa nas redes sociais é relevante. Se ele é ou não afrodescendente. Na repercussão da noticia, quase necas de pitibiribas sobre a efetividade do projeto afirmativo do Instituto Rio Branco em formar diplomatas negros. Muito menos sobre sua principal característica – a ideia de que, dadas as mesmas condições ideais de meritocracia e temperatura, brancos e negros poderiam concorrer em pé de igualdade no concurso da instituição.
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