Antigo? Sim. Obsoleto? Nunca.

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Outro dia, coisa que já faz um tempão, encontrei Sueli Carneiro. Fui a uma de suas palestras, coisa muito rara na minha agenda, aquele dia em que consegui ‘honrar” o “chamado das ruas”. E assistindo com muito deleite sua reação ao visitar pela primeira vez uma sala nomeada em sua homenagem, fiquei muito satisfeita. Mais ainda quando ela perguntou sobre mim para depois dizer gentilmente que deveria voltar a escrever. Talvez o que nem eu mesma tenha me dado conta que minha produção nunca foi interrompida de fato, houve muitos momentos em que não publiquei, outros em que não “assinei”. Porém tenho estado sempre aqui desde os tempos das grandes pretensões, assistindo com espanto a grandes mudanças.

Agora não se trata apenas de produzir nesse ou naquele site, em carreira solo ou coletivamente. Agora as redes sociais, nada mais que empresas multinacionais, são o lugar onde muitas de nós escolhem ou são obrigadas a publicar. E uma vez lá dentro, vem os termos de privacidade e de conduta para nos conformar, apenas para dizer o mínimo. Decidir onde escrever nos dias de hoje é procurar qual a corda que nos aperta menos o pescoço.

Antigo? Sim. Obsoleto? Nunca.

E se ainda é possível respirar um pouquinho, me sinto muito mais confortável escrevendo como fazia há quase 20 anos, num blog. Antigo? Sim. Obsoleto? Nunca. Aqui não é um condomínio à céu aberto, porém esse quarto e cozinha a gente pode chamar de nosso enquanto o aluguel não se torna proibitivo.

E hoje, dada a pequena liberdade que ainda me consta, apesar de toda essa miséria que urge por um grande textão sobre o genocídio da população negra, lamento com poucas palavras a morte daquela que é uma das mulheres que literalmente me carregou no colo para que a lama não alcançasse meus pequenos pés vestidos por caprichosas meias brancas.

Se hoje escrevo, também é por causa de você.

M.R.C., descanse em paz.

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A calçada por si só não é nada. É uma abstração. Ela só significa alguma coisa junto com os edifícios e os outros usos limítrofes a ela ou a calçadas próximas. Pode-se dizer o mesmo das ruas, no sentido de servirem a outros fins, além de suportar o trânsito sobre rodas em seu leito. As ruas e suas calçadas, principais locais públicos de uma cidade, são seus órgãos mais vitais. Ao pensar numa cidade, o que lhe vem à cabeça?

Je suis desolée Moïse Mugenyi Kabagambe

"Olha a foto do meu filho, meu bebezinho. Era um menino bom. Era um menino bom. Era um menino bom. Eles quebraram o meu filho. Bateram nas costas, no rosto. Ó, meu Deus. Ele não merecia isso. Eles pegaram uma linha (uma corda), colocaram o meu filho no chão, o puxaram com uma corda. Por quê? Por que ele era pretinho? Negro? Eles mataram o meu filho porque ele era negro, porque era africano.", disse sua mãe.

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