É sobre a vaquejada mas também é sobre nós, mulheres negras

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Originalmente publicado pelas Blogueiras Negras.

Não falo muito sobre isso mas farei isso hoje porque penso que é muito importante. A comida que comemos mascara muita crueldade. O fato de que podemos nos sentar e comer um pedaço de frango sem pensar sobre as horrendas condições nas quais as galinhas são industrialmente criadas nesse país é um alerta sobre os perigos do capitalismo, em como ele coloniza nossas mentes.

Angela Davis

Muitas vezes tenho afirmado que sou vegetariana, querendo ter uma alimentação estritamente vegetal mas falhando miseravelmente. Porém essa é a primeira vez em que escrevo mais seriamente sobre. Talvez porque a prática cotidiana de questionar o que alimenta a barriga tenha vindo em primeiro lugar e só depois a necessidade de pensar para além do umbigo o que isso significa e qual o impacto de não consumir produtos animais.

Decidi que era hora de registrar algumas inquietações, agora que o STF derrubou a lei cearense que regulamenta o “esporte” da vaquejada e estão sendo organizados protestos em todo país. Tudo isso para defender aquilo que consideram “uma imposição ideológica” contra uma “tradição” que emprega mais de meio milhão de pessoas por todo o país e que “não poderia” ser considerada maus tratos e crueldade animal. Tudo isso sendo dito pelo humanos, não pelos bichos, precisamos dizer.

Falar sobre o especismo com a vaquejada no centro do furacão é uma excelente oportunidade para que nós, como comunidade de pessoas negras e vegetarianas, falemos sobre especismo. Sobretudo porque esse é um debate que infelizmente tem se colocado alheio à discussão racial apesar de toda boa intenção ao denunciar a violência praticada contra os animais. Um ótima chance para pensarmos em como o conceito pode contribuir (se é que pode) para a luta contra outras opressões.

Infelizmente o termo especismo não é muito conhecido fora dos círculos vegetarianos ou militantes, até mesmo feministas o desconhecem e num primeiro contato são resistentes a ele. Mas a primeira coisa a ser dita é que essa violência valida a si mesmo, não poderia ser diferente. Especistas fazem uso de argumentos especistas como “sempre foi assim”, “mas a abelha não sente como a gente”, “as sociedades humanas são mais complexas”, “os bichos não têm a mesma percepção de mundo que a humana”, “eu preciso me alimentar”, “a vaca fica feliz em nos dar seu leite”, “os porcos vivem bem”.

Um dos argumentos da Associação Brasileira de Vaquejada (ABVQ), de que o “esporte” preza pelo “bem estar” animal, é um exemplo disso. Mas a pergunta muito simples é – quem define o que é bem estar e o que vale mais? Estão interessados no que o bicho sente ou nos interesses econômicos que a exploração animal significa? E o que tem maior relevância? O mercado envolvido ou o direito do animal de escolher para onde quer ir, como viver? Isso importa pra gente que é negra?

Assim, quando se defende a vaquejada como uma “tradição”, o que está sendo dito é que vidas humanas sempre estiveram em privilégio e isso não precisa ser mudado. O motivo não é o “bem estar” do bicho, mas sim o mercado que representa e suas narrativas. Sempre foi assim e sempre será. Você pode aceitar essa afirmação ou não. A tradição em jogo não é a vaquejada, mas o privilégio humano de dispor sobre as demais vidas por dinheiro por exemplo.

Não podemos nos esquecer que no caso da vaquejada são aproximadamente 120 mil empregos diretos e 600 mil indiretos. Quando “o bicho morre ou morro EU” ficam evidentes dois aspectos dessa discussão – o privilégio (ou a necessidade, no caso de pessoas negras e periféricas) é tamanho que a própria vida é mais importante que o direito do outro à vida e como nossa sociedade se estrutura através da hierarquização de quem vive ou morre, de quem está na base ou no topo da pirâmide.

Como mulher negra, me pergunto se por acaso não são estes os cernes da questão racial? Então, porque permanecemos alheios às discussões sobre o especismo? Como vegetariana, preciso entender que, se o desejo é por uma sociedade mais justa, como muitos meios vegetarianos simplesmente ignoram o debate racial e questões afins? Perguntas sinceras me interessam.

Quando o assunto é vaquejada, a vida em completa desconsideração é a animal. Mas nós, como pessoas negras de diferentes identidades, sabemos o quanto essa mira é inteligente em mudar de alvo quando lhe convém, segundo seus interesses e através de argumentos estapafúrdios. Por outro lado, sabemos muito bem que derrubar o especismo ou trabalhar arduamente por isso é insuficiente e não promoverá uma sociedade mais justa, uma falácia tão sedutora quanto falsa.

Nenhuma luta sozinha mudará o mundo.

Nesse momento, por questionar tanto pessoas negras quanto vegetarianas, esse texto poderá ser completamente mal interpretado em suas intenções e certamente será. Sendo considerado alienado, irrelevante. Nisso vegetarianos e pessoas negras hão de concordar. E se houver diálogo, já obtive algum êxito. Porém, apesar de levantar contradições, a ideia é colocar certezas em perspectiva.

Quem se reconhecerá neste lugar de opressor quando somos oprimidas por tantas violências como pessoas negras? Como fazer isso na prática? Em se lutando pela vida, quem há de se reconhecer racista quando ser vegetariano é (ou deveria ser) essa coisa tão legal e libertária? Em sendo animalizados, como nos enxergar como  especistas? Em animalizando, como buscamos a libertação animal? Essas parecem ser algumas das principais sutilezas e dificuldades nesse debate.

Como vegetariana, está enegrecido que lutar pelo fim do especismo não deveria tolerar as demais opressões. Mas basta uma breve busca por vegetarianos famosos para ver que não comer produtos animais não beatifica ninguém. Precisaria ser, ainda que nem sempre seja, a consideração de toda a vida. É por isso que não é aceitável não matar, é preciso libertar completamente. O contrário também é verdadeiro. Como mulher negra, compreendo que lutar contra o especismo não impede nenhum ser humano de ser racista, elitista, alheio às periferias.

E posso errar duplamente.

Esse é um lugar cheio de paradoxos e contradições, a primeira coisa que gostaria de admitir. Ninguém disse que é fácil. Só que tudo muda quando a gente percebe que é pela consideração de todas as vidas. É sobre nós, mas ao mesmo tempo não é. É sobre a luta em si e como ela não pode ser relativa. E ao mesmo tempo não pode ser feita através de métodos e discursos absolutos que ignoram contextos, sutilezas e pessoas.

Muitas vezes ouço argumentos especistas de pessoas negras, sobretudo o da questão de sobrevivência, de escolha ou de cerceamento de liberdades individuais. Por vezes, reproduzindo discursos violentos, que objetificam, hierarquizam. Muitas vezes vi vegetarianos sendo racistas, elitistas. Talvez por isso esse texto tenha demorado anos para nascer. Acusar uma pessoa negra de nunca ter ido a um abatedouro ou dizer que não era urgente não vai mudar o mundo.

É por isso que antes de escrever e levou muito tempo, foi preciso entender que o discurso tal como é feito por grande parte da comunidade vegetariana branca, nunca foi e não deve ser uma verdade absoluta. Não estou aqui colocando em dúvida a luta pelos direitos animais, mas o modo como ela é feita e para quem. Foi preciso reconhecer que não existe nada que justifique matar um bicho, a retirada de sua autonomia, nem mesmo o direito de uma pessoa negra à vida.

E sobretudo, entender que haveria situações em que precisaria descer do muro e escolher de qual lado ficar e que isso seria contraditório. Compreender perfeitamente que muitas vezes a pergunta é mesmo sincera e não há alternativas. É isso que parte da comunidade vegetariana resiste em (ou não precisa) entender as relações etnicorraciais. Quando uma pessoa negra fala em questão de “é o bicho ou sou eu” isso pode ser bastante literal. E nesse caso, estou completamente alinhada aos interesses humanos. Me deixe explicar o porquê.

Entendo que pro bicho muito infelizmente não faz diferença, ele vai morrer ou terá seu direito de ir e vir cerceado. Sim, estou lidando com meu privilégio humano. Mas o que fez a balança pender foram as violências dirigidas à população negra nesses debates. Na realidade, se você é vegetariano e racista, já colocou sua luta em questão. É preciso enegrecer essa conversa, caso contrário ela nunca fará sentido para nossa comunidade. O que pro bicho isso faz toda diferença.  É nessa hora que me alinho aos interesses animais.

O contrário nem sempre é verdadeiro.

Existe a possibilidade de uma pessoa negra ser “especista” sem colocar sua luta por dignidade em jogo. Isso se dá quando ela não tem escolha alguma. Porém, a partir do momento em que ela conhece o que é especismo, não tem restrições médicas, têm acesso à informação, acesso à comida, suplementos e produtos apropriados… Ela não pode colocar em risco sua própria humanidade. Mas tudo isso é um privilégio em si. Pode ser impraticável principalmente dada a realidade de grande parte da população preta no mundo. Esse é o ponto em que alguns vegetarianos estão falhando em entender.

Se isso é fácil? Não, verdadeiramente não é. Num plano ideal não deveria existir oposição entre direitos humanos e animais. Nem conceitualmente. Mas na prática… Sou vegetariana há mais de 15 anos e meus pais jamais serão vegetarianos. Sua cultura, suas necessidades fisiológicas, seu histórico alimentar que infelizmente inclui insegurança alimentar, sem falar das restrições de orçamento são determinantes. E se existem culpados, não são eles. O que mais dói é saber que não consumir produtos de origem animal é fácil.

E que o que eu como não é diferente do que uma pessoa que não é vegetariana come. Todas aquelas receitas mirabolantes, não fazem parte da minha dieta. A única diferença é que tiro a carne, o peixe, o frango, o ovo, o mel. Na maior parte do tempo coisas que não vem em embalagens e pacotes, o que não salva ninguém de agrotóxicos. E de vez em quando como queijo na pizza. Não rola caviar vegano. Se bem que isso é bem fácil de fazer, basta pegar sagu, jogar sal em cima e fim.

Agora, admito que entender como ser vegetariano é caro. Mas nem todas as pretas que são vegetarianas aprenderam comprando livros caros, tendo acesso a textões que são via de regra repletos de discussões pouco práticas. Muitas de nós aprenderam na base da tentativa e erro, de ouvido ou pela necessidade. Nem todas fazem suplementação de B12 e outras, como eu, teriam de comer pregos (minha mãe colocava no feijão e ou sempre cozinhava numa panela de ferro como uma tentativa de suplementar pra gente na infância) mesmo que comessem carne.

E bum, esse é o caso da vaquejada. Tudo precisa ser relativizado. Lembremos que não pode ser imputada à população nordestina qualquer culpa. Lembremos que nessa indústria da crueldade, responsável por 4 mil vaquejadas que somam 600 milhões de reais por ano, tem mais que bicho sendo explorado. Para quem essa grana vai e como, precisamos pensar. Buscando como aliados quem também está na marginalidade, mostrando que o fim da crueldade é pelo bem de todos e propor alternativas.

Por outro lado, enquanto o especismo pode se dar ao luxo de ser ignorante, não podemos como pessoas negras repetir o mesmo erro. Sabemos que, desse lugar que falamos, é muito fácil entender porque a vaquejada é uma violência. Não podemos fechar os olhos, evitar o problema e não entender por exemplo como a carne é produzida, como funciona a indústria do leite, porque derrubar e restringir a liberdade animal são violências. Agir como se não houvessem relações de poder envolvidas nesse é contraproducente pra nossa luta.

Ou seja, quando o contra-especismo é alheio às questões raciais, estamos simplesmente reproduzindo o mesmo modelo que buscamos destruir como vegetarianos – a hierarquização de algumas vidas em detrimento de outras. É fácil ser vegano na vila madá. Quero ver ser vegano quando, só para pensarmos num exemplo simples, se vive como ribeirinho. As grandes corporações estão oferecendo alternativas para a fome dessas populações e nós vegetarianos?

Porém, como pessoas negras, não podemos nos dar ao privilégio de relativizar as demais lutas por dignidade. Colocando em risco a nossa própria. É nessa hora em que a gente precisa falar também sobre o termo escravidão animal (fica a dica de usar escravização animal) que deixa muita gente de cabelo em pé. A ideia não é ser racista ou menosprezar nossas batalhas, ainda que seja relevante e completamente legítimo que pessoas negras se sintam agredidas por isso.

Basta entender que, quando se usa esse termo, a proposta é demonstrar a coisa como ela é, não deseducar sobre os horrores da escravização. É para que se entenda que não queremos jaulas melhores, queremos que sejam destruídas. Queremos que os zoológicos deixem de existir, por exemplo. E daí, ninguém poderá ser privado de liberdade. Do mesmo modo que pessoas negras só são ouvidas se estiverem com estatísticas em mãos, e olha que nem isso garante nada, vegetarianos só são considerados se mostrarem imagens muito concretas.

Explicando em termos simples (e especistas) a ideia não é nos animalizar, mas humanizar os bichos. Tudo bem que na real a gente sabe que belos discursos pela vida animal não impedem ninguém de ser racista e elitista, ainda que a proposta inicial seja a denuncia que animais tem sido escravizados por seres humanos. E isso inclui a vaquejada, porque ainda não vimos nenhum bicho militando em defesa do “esporte”.

Esse modo de agir, através de aproximações, é recorrente dentro da luta por direitos animais. Muitos comparam o especismo ao racismo e sexismo enquanto relações de poder estruturais que colocam algumas vidas em relação de privilégio, que objetificam a existência do outro em prol de seus próprios interesses, fazendo que até mesmo as discussões sobre tais interações sejam dominadas pelo opressor.

Eu mesma estou usando essa forma de pensar.

A fragilidade é o apagamento das especificidades de cada uma dessas opressões e esse texto não está imune a isso. Isso fica explícito com uma imagem bastante difundida pela rede afora que diz que o especismo = racismo = sexismo. Exatamente o que não precisamos para estabelecer direitos. O mais curioso é que para conscientizar as pessoas foi usado um argumento que pode ser entendido como especista e explicarei porque.

Vidas humanas, assim como as demais, têm linguagens próprias. Cada uma dessas linguagens e demais características que construíram suas sociedades que são únicas mas… O nosso movimento é de considerar a nossa existência como régua para todas outras. E no desejo de superar esse modelo, as opressões que cada um desses grupos sofrem são igualadas, descontextualizadas e descaracterizadas.

E agora um dos pontos mais complexos, que pode causar muita polêmica. Apesar dessas relações de poder serem caracterizadas pelo privilégio, a retirada da autonomia, do direito à vida… É preciso considerar que, tirando o especismo, todas as demais opressões acontecem num sistema onde são compartilhados em maior ou menor grau a linguagem. Você, ser humano, pode (ou deveria) se defender ou denunciar a violência que é dirigida a você. Você será capaz de partilhar dessa luta com seus iguais.

Quando você compara especismo a opressões como racismo e sexismo, você está dizendo que vidas animais teriam as mesmas ferramentas quando a escravização animal lhes retira completamente esse direito. Isso também acontece com seres humanos, dependendo de quem você é. Aqui reside o ponto cego porque é nessa hora em que somos animalizadas. Daí a urgência de entendermos, como mulheres negras, que esse mecanismo não pode ser reproduzido em hipótese alguma.

Os próprios interesses não são um refúgio válido.

Outro ponto sensível sobre a comparação do racismo, sexismo e especismo feito pela essa imagem é que dá a entender que a luta contra pelos direitos animais está suficientemente enegrecida ou livre de outras expressões violentas como o elitismo, o que está longe da verdade. Ou ainda, que o feminismo compreende completamente o que é o especismo. Mas o principal fator é que,  ao se permitir ser racista, você vegetariano já comprometeu sua luta.

É por isso que, ao meu ver, uma das premissas mais importantes sobre a decisão de ser vegetariano é não ser motivada pelos interesses humanos. Deixar de comer bichos por questões de saúde, não pode ser conceitualmente considerado como um posicionamento contra-especismo. Se não é pelo bicho, não está valendo. O bicho não morreu, lindo. Mas e todo o resto? Seremos completamente capazes de abdicar dos nossos interesses ou limitações em prol de uma sociedade justa?

A maior parte das discussões sobre ser vegetariano são de um ponto de vista branco. Não poderia ser diferente, essa discussão vem de círculos brancos, estrangeiros à nós em todos os significados possíveis da palavra. É a fala de um grupo que historicamente nos oprime, o que vem dessa boca precisa ser pensando, criticado. Porque as consequências disso é um vegetarianismo que não nos diz nada respeito.

As receitas são impossíveis de fazer, não tem relação com a nossa tradição culinária, oferecem alternativas que não são economicamente viáveis, muitas vezes promovendo ataques às religiões de matriz africana. Mais uma vez impondo um padrão de branquitude sobre o modo como vivemos nossa vida. Isso quando não temos, como pessoas negras, nos bater com o racismo esclarecido desses ambientes. Como mulher negra, não vou dourar a pílula.

Quando na realidade… Ser vegetariano é fácil. Prazeroso.

Mas a galera faz parecer complicado. E ainda faz um debate todo trabalhado em questões biológicas que não se dá ao trabalho de simplificar conceitos. Não estou dizendo que não somos capazes de entender tais discussões, mas elas têm espaços para a acontecer, momentos para acontecer. Precisamos facilitar o debate nas redes para que ninguém tenha de comprar livros caros e inacessíveis. E quando não se tem acesso à rede?

As pessoas precisam simplesmente entender que a vida (e aqui falamos daquela que se estrutura em sociedade, percebe o mundo, é capaz de ter experiências, trocar informações por meio de linguagem própria ou não, agir em prol dos seus próprios benefícios) pertence a si mesma. A vida do peixe pertence aos interesses do peixe, os animais não se oferecem para nos alimentar e assim por diante. Elas precisam entender porque comemos alface e não mel.

Por outro lado, precisamos como pessoas negras nos aproximar da ideia de especismo. Não estou aqui para eufemismos – quando a gente fala que o oprimido não oprimirá, isso não pode valer só para vidas humanas. Afinal a humanidade que queremos é a mesma que devemos defender para as demais vidas. Isso é um desafio e não estou aqui para dizer que já consegui. Um exemplo simples e nem estamos falando de outras violências –  consumo queijo e quem sabe numa outra oportunidade falo mais sobre isso.

Ou seja, como vegetarianos precisamos entender que lutar contra o especismo não é a chave única e primeira do universo para mudar o mundo. Inclusive como humano você poderá lutar contra o especismo em sendo especista. Mas você não poderá se dar o privilégio de ser racista, machista ou reproduzir qualquer outra opressão. Isso coloca em xeque os interesses animais. E se não é por você, mas sim pelo bicho, é preciso no mínimo estar disposto a se reconstruir a fim de alcançar os objetivos a que se propõe.

Como pessoas negras, a distância da luta pelos direitos animais pode relativizar nossa própria humanidade porque estaríamos legitimando a hierarquização da vida. Concordar que qualquer argumento, qualquer que seja, justifica a morte de um ser que tem seus próprios interesses, é aceitar as mesmas atrocidades que nos são dirigidas. Obviamente isso não é fácil, mas podemos tentar. Basta lembrar que não é por acaso que nos animalizam como mulheres negras.

E que a carne mais barata do mercado é a nossa, mas não apenas a nossa…

Leitura recomendada

Antiveganos fazem cosplay de pobre, Veganamente.

Vaquejada:  a essência de um “esporte” que explora animais, Veganamente.

Citação à Angela Davis, uma tradução livre.

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