Os anos 80 estão voltando: marca sentimental, Lollo relembra a infância

por isso que é preciso que nós, pais e educadores, prestemos grande atenção ao modo como as marcas são apresentadas aos nossos filho
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Originalmemente publicado pelas Blogueiras Feministas.

Segundo a Nestlé, Lollo voltou atendendo aos pedidos dos chocolovers e anuncia a volta de um dos chocolates mais queridos do Brasil: Lollo, “o chocolate fofinho da Nestlé”. Ícone da década de 80 e de toda uma geração de consumidores, Lollo volta ao mercado com a receita original e mesma identidade visual, para encantar os saudosistas e conquistar novos fãs.

Essa postagem está atrasada, mas acho muito importante falarmos sobre o Dia da Crianças. Essa foi a segunda vez que comemorei a data em família e a minha grande preocupação é, nesse momento, a observação da construção daquilo que chamo de memória afetiva de consumo que pode ser entendida como uma série de sentimentos e emoções impressos no indivíduo desde a infância de modo a criar uma relação afetiva com uma marca ou produto em detrimento de quaisquer aspectos objetivos.

Por exemplo, recebi em casa uns livros infantis doados pelo Banco Itaú. Por enquanto não há problemas pois a menina é muito pequena (ainda que esteja desde muito cedo sendo exposta à marca). Agora imagine o mesmo livro sendo lido por uma criança de 6 anos, que poderá associar o ato prazeroso de ler e o carinho dos pais ao banco, construindo uma impressão indelével em sua memória afetiva de consumo, que no futuro poderá fazer e fará toda diferença na escolha pela marca. O relacionamento que deveria ser objetivo, se torna uma relação emotiva quando falamos de uma marca sentimental, assim como o chocolate Lollo.

Ainda que nunca tenha deixado de ser vendido com o nome de Milkbar e uma formulação levemente diferente, o relançamento do Lollo tem como pano de fundo o fato de o consumo de chocolate ter aumentado de 1 para 2,5 quilos no país desde a década de 80. A empreitada, cuja viabilidade foi fortemente estudada, também se aproveita de uma onda retrô movida pela nostalgia de consumidores que atuam como “embaixadores da marca e apresentam o chocolate aos filhos e amigos mais novos“segundo salienta o portal Administradores.

Outra oportunidade é a reedição de uma identidade de consumo bem delineada e associada ao refinamento, os chocolovers, que terão uma a chance única de se deliciar com um produto conhecido apenas por aqueles que tiveram a sorte de serem crianças e jovens na década de 80. Porém, o maior trunfo do chocolate fofinho da Nestlé é ser uma marca sentimental de amplo alcance, na qual as pessoas confiam e que lhes foi apresentada numa época inocente e feliz, demonstrando que o único relacionamento que uma criança pode ter com uma marca é emotivo. E adivinhem, as marcas sabem disso.

A comunicação do Lollo, nos anos 80, era muito simpática e isso criou um residual de memória que existe até hoje”, diz Eduardo Tomiya, especialista em marcas da BrandAnalytics.

“Sempre monitoramos as redes sociais e vimos que muita gente citava o Lollo com saudades”, diz Ricardo Bassani, gerente de marketing da multinacional suíça.

Referência: Estratégia dos grandes: Na onda ‘revival’, Nestlé Brasil relança chocolate Lollo.

Ajuda e muito que sua garota propaganda seja uma vaquinha feliz que passa seus dias numa fazendinha, igualmente feliz, alimentando-se de flores e voluntariamente fornecendo leite para seus amigos humanos. O conceito contribui ainda mais para a infantilização de um consumidor que prefere acreditar nessa fábula a entender objetivamente como funciona a produção de carne e leite, tal como é mostrada no documentário Earthlings (Terráqueos). Quem viu bem sabe que a indústria leiteira pode ser tudo, menos um negócio gentil.

É por isso que é preciso que nós, pais e educadores, prestemos grande atenção ao modo como as marcas são apresentadas aos nossos filhos. Isso também é educação. Eles não estão preparados para um envolvimento de igual para igual com as marcas (se um adulto pode ser facilmente ludibriado por uma peça publicitária, imagine uma criança), que por sua vez costumam praticar, sem o menor pudor, algo que poderia muito bem ser chamado de pedofilia publicitária: envolver e sequestrar emocionalmente os consumidores desde muito cedo por meio de um discurso aveludado que geralmente não condiz com a realidade das marcas.

Precisamos ficar atentos.

Autora

Charô Nunes é mulher livre, mãe, sonhadora. Não-monogâmica, atéia, vegana. Ex-fumante, abstêmia e consumidora voraz de suco de uva.

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