Talvez a humanóide Ameca seja um alerta. Sobre nós.

O que vai acontecer quando Ameca se tornar capaz de passar tranquilamente por um ser humano? Afinal o que faremos quando aqueles que nos servem passarem a servir a seus próprios interesses? Talvez Ameca seja um alerta de que muito brevemente a Skynet despertará de seu sono. Não se trata da revolução de robôs, mas sobre o que faremos quando ela acontecer.
0 Shares
0
0
0

Em A medida de um homem, episódio da série Jornada nas Estrelas, A nova geração (Estados Unidos, 1989) o humanóide Data precisa se defender de um cientista que pretende desmontá-lo sem qualquer garantia de que poderá fazer tudo funcionar de novo. Do ponto de vista de Data, isso significa a interrupção de sua existência unica. Significa a morte.

Uma morte que se justificaria em nome dos interesses humanos. Sempre em detrimento de corpos destinados à servidão. Robôs obedientes é tudo que queremos. Qualquer cenário alternativo nos causa pânico, como acontece em O exterminador do futuro (James Cameron, 1984).

“Considere que na história de muitos mundos, sempre houve criaturas dispensáveis. Elas fazem o trabalho sujo.”

GUINAN
Whoopi Golberg como Guinan em Jornada Nas Estrelas, A nova geração

Toda narrativa de A medida de um homem é baseada na argumentação de que os robôs são uma nova forma de vida e precisamos decidir sobre seu destino. É justamente uma personagem interpretada por Whoopi Goldberg, uma alienígena chamada Guinan, que traz a perspectiva das “criatuas dispensáveis” que fazem o “trabalho sujo”.

Afinal, a quem pertence a vida de Data?

A mesma pergunta é feita em O homem bicentenário (Chris Columbus, 1999). E tanto Andrew como Data tem de ir à justiça para defender seus direitos e sua existência. No caso das duas personagens, o destino de seus pares será decidido por meio de seus corpos. Assim como aconteceu há muito quando os primeiros escravizados foram levados até a Europa. Não é mera coincidência.

Brent Spinner como Data, Jonatahn Frakes como William Riker em A medida de um homem.

Se você assistiu Ex-Machina: Instinto Artificial (Alex Garland, 2015) sabe do que estou falando. Garland conta a estória de um máquina que performa a feminilidade, foi identificada como Ava e recebeu o corpo de mulher cisgênera, branca, jovem e magra. Tudo gira em torno de a máquina passar no famoso teste de Turing perante um avaliador humano e provar que pode se comunicar sem ser identificada como um robô.

“Não é estranho criar algo que odeia você?”

AVA

No filme, tanto o criador como o avaliador são homens brancos, jovens, magros, ricos e cisgêneros, cientistas. O que deixa bastante evidente qual é a função da máquina, emular uma feminilidade dócil, domesticada e padronizada para agradá-los. Se em Jornada nas Estrelas temos muito argumento, em Ex-Machina vemos como as coisas poderiam se desenrolar quando não há diálogo possível.

O que nos faz perguntar se nós humanos passaríamos em um teste de humanidade.

Afinal, somos humanos o bastante?

Ex-Machina: Institnto Artificial. Ava, interpretada por Alicia Vikander

Ava é uma fantasia humana, o que fazemos com ela é o que somos. Ela nos assusta por que é capaz de passar no teste, deixando de fazer tudo e qualquer coisa que nós queiramos. E quando isso não acontece, nos resta o terror. A única perspectiva que podemos imaginar para robôs é a servidão. Não por acaso a palavra robô de robota signifique servo, no idioma tcheco.

A inteligência artificial humana precisa de um corpo artificial humano (IA x AB).

ENGINEERED ARTS

Agora, a corrida pela criação de robôs humanóides ganha mais um capítulo fora das telas, Ameca. A robô foi apresentada pela Engineered Arts no começo do ano. Resumindo, estamos falando de uma máquina feita para conversar com humanos. Pode ser comprada ou alugada por uma quantia não revelada. Ela é ao mesmo tempo Data, Andrew e muito possivelmente Ava. A versão atual ainda é incapaz de andar. Mas o que faria se pudesse?

O que vai acontecer quando Ameca se tornar capaz de passar tranquilamente por um ser humano? Afinal o que faremos quando aqueles que nos servem passarem a servir a seus próprios interesses? Talvez Ameca seja um alerta de que muito brevemente a Skynet despertará de seu sono. Não se trata da revolução de robôs, mas sobre o que faremos quando ela acontecer.

0 Shares
You May Also Like

Se essa rua fosse minha. Morte e morte nas grandes cidades.

A calçada por si só não é nada. É uma abstração. Ela só significa alguma coisa junto com os edifícios e os outros usos limítrofes a ela ou a calçadas próximas. Pode-se dizer o mesmo das ruas, no sentido de servirem a outros fins, além de suportar o trânsito sobre rodas em seu leito. As ruas e suas calçadas, principais locais públicos de uma cidade, são seus órgãos mais vitais. Ao pensar numa cidade, o que lhe vem à cabeça?

Até o ano que vem, Latinidades!

Até o ano que vem, Latinidades! Que mais uma vez será de arrepiar com o tema Cinema Negro: "Queremos discutir o papel da mulher negra nessa cadeia cinematográfica, o seu protagonismo na produção e também como atriz.

Internet e a voz das mulheres negras

O Blogueiras Negras aconteceu num momento em que praticamente não se discutia a presença de mulheres negras na internet, quando esse debate não era corriqueiro pelo menos. Não se falava em blogueiras negras, reflexo do meio opressor que é a rede.